Ao longo da pré-história e da história, o ser humano construiu moradias para abrigar-se e conviver, construiu monumentos e esculturas para representar seus grandes ideais, erigiu grandes templos e grandes centros megalíticos para exaltar as Divindades.
Mas ninguém deixa de assombrar-se quando estuda as construções dos labirintos (construção arquitetônica sem aparente finalidade, de complicada estrutura e na qual, uma vez em seu interior, é impossível ou muito difícil encontrar a saída).
Construções que aparentemente só servem para adornar, mas que em contrapartida assombram por sua beleza e seus mistérios, como por exemplo: o Labirinto Egípcio do Lago Moeris, o Labirinto de Cnosos em Creta, o Labirinto da Ilha de Lemnos, o Labirinto da tumba de Pórsena, o Labirinto da Ilha do Sol…
Labirintos onde ninguém deixa de observá-los e com grande surpresa perguntando-se:
Qual é o objetivo desta construção? Por que tantos esforços para construir algo que aparentemente só serve para adornar?
O que querem indicar?
A primeira etimologia da palavra “labirinto”, do Egípcio “lapi ro hunt”, significa “templo à entrada do lago" e faz referência a um imponente labirinto situado no sul do Cairo, próximo ao Lago Moeris que atualmente leva o nome de Birqkat Qarun (O estanque de Coré). Este lago encontra-se a oeste do Rio Nilo e a 80 quilômetros ao sul da cidade do Cairo.
Diz-se deste labirinto que era a maior proeza dos egípcios ao invés das pirâmides. É obra do Faraó Amenenhat III da XI Dinastia. O historiador grego Heródoto que o viu no século V a.C. diz dele:
“Se fossem reunidas em uma única envoltura todas as fortificações e construções da Grécia, tal conjunto pareceria ter custado menos trabalho e gastos que o labirinto”.
Desta palavra egípcia deriva a palavra grega “labyrinthus” e mais tarde o termo latino “Labyrinthus”.
A segunda etimologia provém da língua minoica onde Labrys significa “lâmina dupla” e está presente em muitos santuários de Creta e relacionado com o par de cornos do Touro.
O Labrys tem relação, no Palácio de Cnosos, com o duplo machado que aparecia em muitas partes desse palácio, cuja planta e estrutura eram labirínticas. O duplo machado é o símbolo da potência masculina e feminina e representa a união dos contrários ou a síntese dos opostos.
A terceira origem etimológica alude a Isidoro de Sevilla que, na Idade Média, onde apareceram labirintos nas catedrais, o deriva de “labor” (trabalho) e “Intus” (interior ou lugar fechado). Portanto, se o labirinto era uma prisão, representava o “trabalho para sair” e se tinha que entrar, representava a “proteção para um tesouro”.
Fulcanelli diz-nos a respeito do labirinto:
A imagem do labirinto é apresentada como um símbolo do trabalho na Grande Obra, com suas duas maiores dificuldades:
- A do caminho que há que seguir para chegar ao centro onde se trava o duro combate entre as duas naturezas
- A do caminho de saída com o fio de Ariadne para não se extraviar nos Meandros da Obra e ver-se incapaz de sair.
Outro autor, Mircea Eliade diz do labirinto:
O labirinto pode ser concebido como o nó que deve ser desatado, empresa mítica levada a cabo por Teseu ou Alexandre (quando desatou o nó Gordiano). O fim último no ser humano parece ser o de liberar-se dos ligamentos, por isso há uma relação entre o fio dos labirintos e os laços ou ligamentos.
São muitas as expressões do labirinto nas culturas antigas, onde nos ensinam o mistério transcendental que sempre preocupou o ser humano: Como resolver o mistério da vida e da morte?
A filosofia neoplatônica representa no labirinto o estado de perdição, a perda do Espírito na Criação ou na Queda e a consequente necessidade de encontrar o “Centro” para retornar a ele, ao Espírito.
Cada bifurcação do labirinto representa nesse sentido as opções na vida, uma para o centro (Espiritual) e outra para o exterior (para a criação, o exterior, os sentidos).
Também representa o condicionamento da consciência humana que se acha presa em um espaço pequeno e limitado e não é capaz de ver o que está fora do labirinto. É necessário, portanto, aprender a ver a vida de fora, sem identificar-nos com ela.
Existe também uma associação muito interessante com outro símbolo, o “Centro”.
O regresso ao centro é um símbolo do Paraíso reconquistado, é atingir e restabelecer a perfeição original da que se desfrutava antes da Queda, onde Deuses, homens e bestas falavam o mesmo idioma. Mas o caminho ao centro está cheio de obstáculos e duras provas.
No mundo oriental isto está assumido na Mandala, que combina os símbolos do centro, da cruz e o círculo. Neste caso, no centro, em vez de haver um tesouro, pode haver um lótus, uma figura de Budha, uma chama ou algo dedicado à concentração. Esse centro da Mandala associa-se com o Centro Interior ou Budha Interior.
Na cultura grega nos ensina a mitologia do Minotauro (símbolo da natureza animal do homem que deve ser derrotada) e Teseu (o herói solar, como princípio crístico ou espiritual) no labirinto de Creta.
A saída de Teseu do labirinto após vencer o Minotauro servindo-se do fio de Ariadne, simboliza seu renascimento, sua evasão da morte e imortalidade. Por este motivo o labirinto tem uma associação com a morte e este é o motivo pelo qual tem sido encontrado em tumbas.
Existem danças rituais de coreografia labiríntica na Suécia e Inglaterra onde se faziam danças em labirintos feitos no pasto e relacionados com o renascimento.
Na época medieval aparecem novos labirintos nas catedrais com uma diferença a respeito dos labirintos clássicos, e é a de que nos góticos há um único caminho desde a entrada até a saída. Este labirinto associa-se com o duro caminho até Deus, desde o nascimento (a saída) até chegar a Ele (o Centro) e está associado à ideia de salvação.
É sabido que alguns peregrinos não podiam fazer as grandes peregrinações à terra santa, portanto, faziam um percurso pelo labirinto da catedral, de joelhos.
Em muitas catedrais o labirinto se dispõe depois da entrada no templo (lugar onde está a pia batismal) e antes do acesso ao altar (onde desce a influência espiritual). Tudo isto é altamente significativo:
Todo ser humano tem que resolver o labirinto de sua própria existência se quiser descobrir os Arcanos da criação e escalar até as mais altas partes do Espírito.
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