Richard Wagner

Por Nerea Urcola   

RICHARD WAGNER: BIOGRAFIA E ÓPERAS

Richard Wagner

Wagner nasceu em Leipzig, Alemanha, em 22 de maio de 1813. Seu pai, funcionário modesto, morreu 6 meses depois. Um ano mais tarde sua mãe se casa com o ator Ludwig Geyer e dizem que foi ele quem lhe inculcou a paixão pelo teatro e pelas artes. Aos 11 anos escreveu sua primeira tragédia: “Leubald”. Mas aos 15 anos, ao ouvir a Sinfonia de Beethoven, ficou tão impressionado que decidiu ser músico, não para expressar suas emoções internas, como fizeram Beethoven e seus precursores, mas porque considerou a música como um incomparável instrumento para comunicar ao drama calor e vida. Esse é o ponto de partida diferencial entre a obra dos dois colossos. Começou a compor sem conhecer teoria musical nem tocar um instrumento.

Seu interesse pela literatura o induziu a ser escritor e descobriria na ópera seu ideal já que assim poderia se dedicar aos dois gêneros conjuntamente. Como já veremos, chegou a ser um grande compositor, diretor de orquestra, poeta e teórico musical. Mas sua figura passou à posteridade principalmente por suas óperas, nas quais, diferente de outros grandes compositores, assume também a cenografia, o libreto e a composição musical.

 

Em 1831 se matriculou no conservatório de sua cidade natal e Theodor Weinling o iniciou nessas matérias. Em 1833 termina sua primeira ópera, “As fadas”, mas não foi interpretada até meio século depois. É nomeado diretor musical das óperas de Wurzburgo e Magdeburgo. Então escreve “Amor Proibido”, inspirada numa peça de William Shakespeare. Apresentou-a em 1863, mas foi acolhida com pouco entusiasmo. Nesse mesmo ano, casou-se com a atriz Minna Planer, reverso egoísta da impenitente idealidade de Wagner. Transladaram-se para Königsberg e para Riga onde Wagner ocupa o cargo de diretor musical. Depois de umas semanas Minna o abandona por outro homem e ainda que depois regresse, a relação já não se recompõe e transcorre penosamente durante 30 anos. Naquele tempo as pessoas não estavam preparadas para compreender suas óperas e elas não tiveram muito sucesso.  Afogados em dívidas, abandonam Riga em 1839.

Foram para Londres e no trajeto, devido a uma tormenta, quase naufragam, o que o inspirou a composição do “O Holandês Voador ou O Navio Fantasma”. Antes da partida de Wagner para Paris, as suas três primeiras produções foram rejeitadas, ora pela vulgaridade das pessoas, ora pela própria mão do destino. Se a discórdia dos atores levou ao fracasso a representação de “Amor Proibido” em Magdeburgo, a quebra mais estrepitosa caiu sobre a empresa do Teatro do Renascimento, em Paris. Em Paris, viveram um tempo e Richard teve que ganhar a vida orquestrando as óperas de outros compositores, o que fez com que renegasse mais o gosto musical da época.Richard Wagner

Todas estas desgraças sempre acompanharam Wagner, até que vai a Dresden e em 1840 termina sua ópera “Rienzi”, cuja estréia tem um êxito considerável. Isto o arranca das tristezas parisienses, para levá-lo como diretor ao Teatro Real daquela corte. Em Dresden permaneceram por seis anos e ele pôs em cena “O Holandês Voador” e “Tannhäuser”, que foi também um desastre.

Depois se envolve em meios anarquistas e em 1849, quando estoura uma revolução, é desterrado de Dresden e foge para Zurich, onde passou 12 anos. Foi quando se separou de Minna Planer, pois ela não quis acompanhá-lo. Dir-se-ia que é lei inexorável a que só a dor pode engendrar as obras-primas e que a têmpera das grandes almas não pode ser adquirida sem o contraste do frio com o fogo.
Ali, na Suíça, quando a família abastada dos Wesendonck o convidou para hospedar-se em uma casinha de campo que tinham em suas propriedades e próxima aos Alpes, ele aceitou. Ali conheceu Matilde Wesendonck, de 24 anos de idade, e que admirava sua música. Para ele foi como o amor ideal, fruto inacessível neste submundo, pois estava casada e tinha 2 filhos, ainda que não fosse feliz. Poderíamos considerá-lo culpado aos olhos de nosso critério moral, mas contra o que poucos poderiam atirar a primeira pedra e que aos olhos piedosos da história é merecedor quiçá daquele perdão divino outorgado por Jesus a Madalena “por haver amado muito”. Foi então quando compôs o drama pungente de Tristão e Isolda, no qual o amor, o desespero e a ternura transbordam.
Neste período, os seus maiores inimigos foram os profissionais da época: Meyerbeer, Rossini, Berlioz, Schumann, etc. Só Liszt o defendia e dizia: “A arte deve a este grande compositor uma gratidão eterna”. Quando Wagner terminou “Lohengrin”, acudiu a seu amigo Franz Liszt a quem pede velar para que esta ópera seja representada em sua ausência. Assim Liszt dirige a estréia de “Lohengrin” em Weimar, em 1850. Depois em 1864, Luis II da Baviera tem acesso ao trono com 18 anos e admira tanto a obra de Wagner que convida o compositor a Munich, com a finalidade de montar alguma de suas obras. Assim Luis II apadrinha Wagner, paga todas suas dívidas, que eram numerosas, e apóia o desenvolvimento de suas novas óperas. Em 1865, por exemplo, é representado “Tristão e Isolda” e teve um sucesso contundente. Além disso, fecharam o conservatório para reorganizá-lo, criaram uma escola modelo e realizaram representações de Tannhäuser e Lohengrin. Também fizeram política para conseguir seus objetivos. Mas o povo e a imprensa exageraram tanto as excentricidades de Wagner e seu protetor que até se chegou a torná-lo responsável por todas as calamidades do Reino.
O escândalo faz crescer a pressão sobre o rei para que expulse Wagner da cidade. Luis II chega a pensar em abdicar para segui-lo em seu exílio, mas Wagner o persuade.

Como vemos, a vida dos gênios tem coisas muito estranhas e dolorosas. Wagner buscou então amparo na sempre neutra Suíça e se estabeleceu na vila de Triebschen, próximo a Lucerna, onde tranquilo, feliz e secretamente protegido pelo Rei Luis II se entregou ao trabalho, para terminar “O Anel do Nibelungo”. Precisamente é a síntese de todas as artes poéticas, visuais, musicais e cênicas, plasmada nesta monumental ópera dividida em 4 partes, por isso chamada Tetralogia. Fala-se que dedicou mais de 25 anos à concepção desta obra, a mais ambiciosa de todas.

Richard Wagner e seu filho

Depois, em 1863, acabou os “Mestres Cantores de Nurembergue” e nesse mesmo ano casou-se com Cosima, a filha de Franz Listz, a quem dedicou, em seu aniversário, o idílio de Siegfried, uma parte da Tetralogia “O Anel do Nibelungo”. Com Cosima teve 3 filhos: Isolda, Eva e Siegfried.
Finalmente, graças à ajuda financeira de Luis II, consegue inaugurar em 1876 o festival de Bayreuth. Para isso construiu um teatro onde continuam sendo representadas as suas obras.

Em 1877 Wagner inicia sua última obra, "Parsifal". Demorou 4 anos para compô-la e a estreou em 1882, em Bayreuth. Parsifal obteve um sucesso enorme, que arrancou lágrimas daquele gênio tão acostumado à luta. Pouco depois da estréia, o Maestro foi passar o inverno em Veneza, como tinha costume desde 1879, e ali, de modo repentino, surpreendeu-o a morte no dia 13 de fevereiro de 1883, ao lado de sua esposa Cosima. Foi por uma parada cardíaca. Dois dias depois os restos mortais de Wagner eram transladados a Bayreuth onde repousam no jardim da casinha de Wahnfried, sob um bloco de mármore sem adorno nem inscrição alguma.

 

A OBRA

Incluiu em sua obra dramático-musical muitos mitos germanos com conhecimentos iniciáticos, reservados para uns poucos eleitos e velados aos olhos do povo ignorante. Estas representações ensinavam doutrinas de todas as ordens: religiosas, científicas, artísticas e históricas. Assim, o drama musical Wagneriano traz em seu seio doutrinas iniciáticas e cerimônias pagãs que fizeram parte dos mistérios da antiguidade.

O cenário Wagneriano é algo novo criado pelo colosso. O cenário dos sagrados mistérios antigos que pôde alçar por fim em Bayreuth, como ele queria. No começo ele não queria que suas óperas fossem representadas para todo o público, mas só para uma elite. Depois, vendo que economicamente as representações não podiam se sustentar, teve que aceder a que o público entrasse às mesmas. Paul Dukas explica o porquê da supremacia do teatro de Bayreuth sobre todos os outros, e por que Wagner dava tanta importância a que suas óperas fossem representadas ali. Em todos os teatros, o público domina sobre os intérpretes e sobre a própria obra, mas em Bayreuth, a obra domina tudo e aparece perfeitamente realizada, como havia sido concebida. Wagner dizia que cada vez que se representava uma ópera sua em um teatro, uma imensa amargura se apoderava do seu coração. Só em Bayreuth conseguia que em seu cenário especial as obras fossem bem representadas, se não, corria o risco de que suas obras parecessem defeituosas ou incompreensíveis.

Richard Wagner Museum

Wagner intuiu com essa super consciência, própria dos gênios, que o futuro restauraria os vastos conjuntos de Arte, Ciência e Magia que se somavam e integravam maravilhosos aos olhos do povo hipnotizado, para gravar em suas mentes as super-humanas realidades do símbolo.
Quando sua mãe o enviou a um renomado colégio de Dresden, em seguida deu mostras de uma grande facilidade e interesse pelas línguas antigas. Ocupa-se muito em estudar os Eddas Escandinavos que depois reflete em suas obras como: “O Anel do Nibelungo” ou “Os Mestres Cantores de Nurembergue”.
Como já vimos, parece que só a dor pode engendrar as obras-primas. Efetivamente, Wagner, por cada amargura experimentada nos deu uma obra-prima. Seus sonhos infantis nos deram “As Fadas”. Suas primeiras chicotadas do sexo “Amor Proibido”. Seus sentimentos revolucionários e turbulentos, “Rienzi”. Seu princípio de naufrágio “O Navio Fantasma”. Sua vida de Paris e suas rebeldias contra o karma, seu “Tannhäuser”. As belezas incomparáveis da Suíça e as neves de suas montanhas, ao branco e puro cisne de “Lohengrin”. Sua trágica paixão por Matilde Wesendonck, o drama pungente de “Tristão e Isolda”. Seus profundos conhecimentos da música medieval, misturados com a ironia cruel de sua existência e na contramão das velhas rotinas da arte de seu tempo, cristalizaram em seus “Mestres Cantores”. Sua obra sintética de tradições e lendas nos deu a “Tetralogia” e, por fim, seus anelos de liberação e suas feridas ao Anfortas relativas ao sexo deram vida às sublimidades religiosas de “Parsifal”.

À parte de narrar as circunstâncias que acabaram sendo a inspiração para o colosso, obviamente cada ópera destas tem sua simbologia alquimista e kabalista que Mario Roso de Luna ocupa-se em explicar com muito detalhe, mas infelizmente seria demasiado extenso para tratar neste trabalho.

O Mestre Samael em sua obra "O PARSIFAL DESVELADO"precisamente nos desvela também toda a simbologia contida nesta ópera. Vejamos agora o que ele diz a respeito de Wagner e seu Parsifal:

A todas as luzes ressalta com inteira clareza meridiana que Wagner foi um Grande Iniciado, um esoterista de fundo, um autêntico iluminado. Em todas suas óperas existe ciência, filosofia, arte e religião. Este grande músico parece ter esquadrinhado antiquíssimas escrituras religiosas. O que mais assombra é a magia inata, de onde a tirou? Mistérios Maiores que o vulgo não entende.

Se Wagner não tivesse proibido a encenação de seu magnus opus, o Parsifal, fora de Bayreuth, o mundo o teria conhecido antes. Felizmente e para o bem da Grande Obra do Pai, a vontade do imortal músico não pôde se cumprir, porque sobre ela estão os tratados internacionais relativos à propriedade intelectual. É óbvio que na Alemanha a proteção legal das obras conclui aos 30 anos da morte de seu autor. Como em 1º de janeiro de 1914 se cumpriram os concebidos 30 anos, o mundo pôde conhecer essa obra magistral. Casualmente coincidiu que nesse ano começou a 1ª Guerra Mundial. É indubitável que o Evangelho Wagneriano ressoa nos campos de batalha, é catastrófico, terrível, resplandece glorioso entre a tempestade de todos os exclusivismos.
É lamentável que a viúva e o filho de Wagner, junto com alguns outros músicos alemães, tenham tentado modificar a lei sobre propriedade intelectual, com o propósito de limitar a representação de Parsifal exclusivamente ao velho Teatro de Bayreuth. O fracasso destas pessoas foi uma alegria para todos aqueles públicos que puderam conhecer a Obra, pois se representou em todos os teatros da Europa. As obras magnas não podem ser limitadas nem ao espaço nem ao tempo. De um artigo jornalístico escolhemos o seguinte: “O assunto do Parsifal surgiu na mente de Wagner em 1857, suspendendo-o várias vezes, até que por fim o terminou em 23 de fevereiro de 1877. Depois começou a trabalhar seriamente na partitura no outono de 1877. A obra ficou definitivamente terminada em 13 de janeiro de 1882. Depois se estreou em 26 de julho de 1882 no teatro de Bayreuth."

Tal como as óperas de Wagner, as demais óperas de outros autores clássicos guardam uma grande simbologia em seu interior. Ademais de instruir os 5 centros inferiores e os 2 superiores (pois levam implícito um ensinamento para a consciência), são um autêntico presente para a alma de todos aqueles que amam a música clássica. Como se fosse pouco, são uma alternativa interessante de entretenimento frente a tanto filme e programação medíocres.

ALGUMAS ÓPERAS NOTÁVEIS:

Beethoven: Sua única ópera Fidelio.

Mozart: A flauta mágica, Don Giovanni, As Bodas de Fígaro, Idomeneo, O Rapto do Serralho, A Clemência de Tito, O Rei Pastor, Assim fazem todas.

Carl Maria Von Weber: O Franco-Atirador.

Monteverdi: O retorno de Ulisses à pátria

Gluck: Iphigénie en Tauride, Orfeu e Eurídice.

Gounod: Fausto

Cimarosa: O Matrimônio secreto

Haendel: Agrippina, Alcina, Rodelinda, Teseo.

Vivaldi: Orlando Furioso.
Música Clássica
Wagner, Richard
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